Cancro cítrico: saiba como evitar a bactéria nos pomares

O cancro cítrico é uma doença que atinge o limão tahiti (lima ácida), mas que é considerada inexistente na Europa. Após o Brasil enviar 32 cargas contaminadas à Europa, o país corre risco de ficar impedido de exportar para o bloco europeu.

Para evitar suspensão das exportações, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) trabalha junto aos produtores em diversas frentes. Para minimizar os danos, 15 produtores brasileiros foram suspensos de exportarem à Europa por 60 dias.

Segundo o Mapa, o Brasil conta com mais de 50 empresas cadastradas para envio de limão tahiti à União Europeia (EU).

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Entenda o caso


André Augusto Francese, auditor do Mapa, explica que o problema começou a ser observado na segunda metade de 2021. Naquela época, o Brasil recebeu a primeira notificação por parte da UE. 

Contudo, a situação apresentou piora nos cinco primeiros meses de 2022, período em que 32 cargas de limão tahiti brasileiras foram diagnosticadas com cancro cítrico pelo bloco.

Exportações de limão tahiti

O Mapa e os produtores atuam para solucionar a questão o quanto antes porque o bloco europeu corresponde a 85% do destino da lima ácida produzida no Brasil. Em 2021, as exportações somaram 153 mil toneladas – o que corresponde a US$ 122 milhões.

Conforme explica Francese, auditor do Mapa, o fim dessas exportações poderia impactar a produção de todo País. O setor é responsável pela geração direta de mais de 200 mil empregos, explica o representante do Ministério.

O Brasil vem discutindo o tema junto a lideranças do setor produtivo, lojas agropecuárias e representantes do Mapa. Já foram realizadas duas conferências sobre o cancro cítrico, uma vez que a situação brasileira requer atenção. 

“Um passo para o bloqueio”

Francese ressalta que “essa notificação (da União Europeia) é um passo para o bloqueio”. Segundo ele, a notificação enviada pela União Europeia determina que não enviemos mais enviar remessas contaminadas. 

A situação é grave, uma vez que a quantidade de limão tahiti exportada não teria como ser absorvida pelo mercado interno. Além disso, também não teria como ser adquirida pelos produtores de suco.

Risco à citricultura em SP

Caso as exportações de limão tahiti sejam suspensas pelo bloco europeu, a produção de laranja pode sofrer impacto. Isso porque a lima cítrica é plantada nas mesmas lavouras em que estão as laranjas. 

Caso a produção de limão não possa ser exportada, os produtores devem perder grande parte da safra. Com o problema financeiro decorrente disso, pomares de laranja podem ser abandonados. 

Adicionalmente, podem ser geradas novas fontes de contaminação, já que o cancro cítrico pode atingir as laranjas. Essa situação pode resultar no fim da citricultura no estado de São Paulo, assevera Francese, auditor do Mapa.

Fruta infectada com cancro cítrico
Fruta infectada com cancro cítrico

Alto custo de produção

Segundo Eduardo Brandão, diretor da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), o problema decorre da alta nos custos de produção, observada nos últimos anos.

Isso teria gerado menos aplicações de produtos para evitar doenças nos pomares brasileiros; agora, resulta na produção de frutos doentes.

O representante da Abafrutas explica que o cancro cítrico é detectável a olho nu, o que cobra dos produtores ainda mais zelo na hora de fazer a seleção. Para Brandão, “tem uma cadeia toda pagando pelos erros de alguns”.

Soluções temporárias 

Enquanto a situação junto à União Europeia não é normalizada, os produtores suspensos pelo Mapa enviam sua produção a outros destinos.

A produção vem sendo escoada principalmente para o Chile e países do Oriente Médio. A condição é que seja feita cuidadosa seleção da mercadoria embarcada.

Atuação do Mapa contra o cancro cítrico

O Ministério atua proativamente para evitar o fechamento do mercado europeu ao limão tahiti brasileiro. Nesse sentido, as seguintes medidas já foram tomadas pela pasta:

  • Verificação do trânsito de limão tahiti entre estados brasileiros para evitar que a produção seja escoada por estados considerados imunes à doença;
  • Fortalecimento da fiscalização da fuga de cargas;
  • Auditoria de containers prontos para exportação;
  • Suspensão por 60 dias de empresas que tiveram qualquer detecção de cancro cítrico desde o final de 2021;
  • Recadastramento de todas as unidades produtoras a partir de agosto para exportações de lima ácida à Europa.

As medidas tomadas pelo Ministério foram consideradas “duras, mas necessárias” pela Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas).

Cobre: solução contra o cancro 

Um estudo desenvolvido pelo Fundecitrus junto da Embrapa observou o período de suscetibilidade da lima ácida ao cancro cítrico, bem como a eficiência do uso otimizado do cobre no manejo da doença nos pomares. 

Tanto no caso do limão tahiti como no da laranja, o cobre é a medida mais eficiente para erradicar o cancro. 

No estudo, a bactéria do cancro foi inoculada em frutos não protegidos com cobre. Após a aplicação, mais de 90% dos frutos foram diagnosticados com a doença. 

Resultados da pesquisa:

– Diagnosticou-se que, quanto maior o fruto, menor sua chance de ser infectado pelo cancro cítrico;

– Com 5 cm de diâmetro, o fruto torna-se resistente à doença;

– Leva cerca de quatro meses para o fruto atingir esse diâmetro, momento em que os cuidados devem ser redobrados;

– Quanto à dose de cobre aplicada, a pesquisa demonstrou que o volume pode ser o mesmo em pomares de laranja e de limão.

Por fim, a pesquisa destacou que o cancro cítrico pode ser erradicado com sucesso e de forma sustentável se as medidas de controle forem corretamente aplicadas.Para mais detalhes sobre o uso de cobre no manejo do cancro cítrico, confira a pesquisa na íntegra, disponível aqui.

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