Enfrentando o greening: Conheça o centro de pesquisa que está transformando a citricultura

A citricultura é um dos pilares da economia agrícola brasileira, especialmente no estado de São Paulo, que lidera a produção nacional e é referência mundial no setor. Além de gerar empregos e movimentar a economia, a exportação de suco de laranja posiciona o Brasil como o maior exportador global no segmento.

No entanto, o setor enfrenta desafios significativos, sendo o greening um dos mais graves. Essa doença tem afetado drasticamente a produtividade dos pomares, colocando em risco a sustentabilidade econômica e ambiental da citricultura. Em 2024, a incidência de greening atingiu 44% dos pomares paulistas.

Diante desse cenário, o Centro de Pesquisa Aplicada em Inovação e Sustentabilidade da Citricultura (CPA) surge como uma resposta estratégica e promissora. Lançado em dezembro de 2024, o CPA é fruto de uma parceria entre o Fundecitrus, a FAPESP e a Esalq/USP, com o objetivo de desenvolver pesquisas avançadas, disseminar conhecimento e transferir tecnologias que possam transformar a realidade do setor.

O lançamento do CPA

No dia 12 de dezembro de 2024, foi oficialmente lançado o Centro de Pesquisa Aplicada em Inovação e Sustentabilidade da Citricultura (CPA), em uma cerimônia realizada no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. O evento contou com a presença do governador Tarcísio de Freitas, que destacou a importância desse marco para a citricultura paulista e brasileira.

O CPA é fruto de uma parceria estratégica entre o Fundecitrus, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP). Com um investimento total de R$ 200 milhões para os próximos cinco anos, renováveis por mais cinco, o centro contará com R$ 90 milhões aportados diretamente pelas instituições parceiras. 

O restante do valor será viabilizado como contrapartida não financeira, incluindo infraestrutura, salários de técnicos e outros recursos operacionais. O principal objetivo do CPA é atuar como um polo de inovação e desenvolvimento para a citricultura, abordando os desafios mais críticos do setor. Suas atividades estão focadas em:

  • Desenvolver pesquisas avançadas: Gerar conhecimento científico e promover inovação em áreas fundamentais como controle de doenças e manejo sustentável.
  • Disseminar conhecimento: Formar profissionais qualificados e disseminar informações relevantes para o setor.
  • Transferir tecnologia: Garantir que as inovações cheguem às propriedades citrícolas e contribuam diretamente para aumentar a produtividade e sustentabilidade.

Com sede na Esalq/USP, em Piracicaba (SP), o CPA promete ser um divisor de águas para a citricultura brasileira, enfrentando de forma integrada e inovadora os desafios que ameaçam o setor.

Impactos do Greening na citricultura

O greening, ou huanglongbing (HLB), é atualmente a maior ameaça à citricultura no Brasil, com impactos devastadores na produtividade e na sustentabilidade do setor. No estado de São Paulo, que concentra grande parte da produção citrícola brasileira, os números mostram uma escalada alarmante da doença: de uma incidência de apenas 0,6% em 2008, o índice saltou para 44% em 2024. Em algumas regiões, esse número ultrapassa 60%, evidenciando a gravidade da situação.

Perdas econômicas e redução da produção

A disseminação do greening tem causado prejuízos massivos à citricultura. Só nas últimas cinco safras de laranja, a doença foi responsável por uma perda de 97,2 milhões de caixas, resultando em um prejuízo estimado de US$ 972 milhões. Além disso, a área de produção de laranja no estado de São Paulo sofreu uma redução de 36,5% desde o início do surto, enquanto os custos de produção subiram cerca de 20%, pressionando ainda mais os produtores.

O desafio do inseto vetor

Outro fator que agrava o problema é o aumento significativo da população do inseto vetor do greening, a Diaphorina citri. Entre 2019 e 2024, a população desse inseto aumentou mais de dez vezes. Essa explosão populacional é parcialmente atribuída à seleção de indivíduos resistentes aos inseticidas, o que dificulta ainda mais o controle químico e aumenta os desafios para os citricultores.

A ameaça à sustentabilidade

O impacto do greening vai além das perdas econômicas imediatas. Ele compromete a sustentabilidade de toda a cadeia produtiva, ameaçando o futuro da citricultura no Brasil. A gravidade do problema exige soluções inovadoras e colaborativas para mitigar a disseminação da doença, reduzir os danos e, eventualmente, encontrar formas de prevenção ou cura. 

É exatamente nesse contexto que o CPA busca atuar, desenvolvendo pesquisas e estratégias que possam conter a progressão da doença e assegurar a continuidade desse setor vital para a economia brasileira.

Colaboração e ensino

Um dos pilares do CPA é a formação de novos profissionais para o setor citrícola. Por meio de programas de pós-graduação strictu e lato sensu, cursos presenciais e treinamentos online, o CPA busca alcançar um público diversificado. Essa estratégia garante a capacitação de especialistas, técnicos e produtores, fomentando a disseminação de práticas sustentáveis e inovadoras na citricultura.

Transferência de tecnologia

Outro foco importante do CPA é a transferência de tecnologia, essencial para que as inovações desenvolvidas no centro cheguem ao campo. Com o apoio da CATI e da Defesa Agropecuária do estado de São Paulo, o CPA levará soluções práticas e acessíveis diretamente aos produtores, potencializando a aplicação de novas tecnologias e fortalecendo a defesa fitossanitária do setor.

Aumento da produtividade e sustentabilidade

Com pesquisas voltadas ao controle do greening e melhorias no manejo das plantações, o CPA visa não apenas reduzir perdas, mas também aumentar a produtividade de pomares. Isso inclui o desenvolvimento de variedades resistentes, técnicas de manejo integrado e soluções inovadoras para combater o inseto vetor.

Um marco para o futuro da citricultura

O lançamento do Centro de Pesquisa Aplicada em Inovação e Sustentabilidade da Citricultura (CPA) representa um avanço significativo para o setor citrícola, especialmente em um momento de grandes desafios como o combate ao greening. A colaboração entre instituições renomadas reforça a importância de unir esforços para promover soluções inovadoras e sustentáveis.

A citricultura paulista, referência mundial, depende de investimentos contínuos em pesquisa e tecnologia para manter sua competitividade e enfrentar as adversidades impostas por doenças e mudanças climáticas. O CPA não é apenas um marco histórico; é um símbolo do compromisso com o futuro do setor, que busca equilibrar produtividade, sustentabilidade e inovação.

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