Recentemente, o estado do Rio Grande do Sul enfrentou uma série de enchentes de magnitude histórica, causando estragos significativos em várias regiões. Essa catástrofe, por sua vez, teve um grande impacto no setor agrícola, um dos pilares da economia gaúcha.
As enchentes não apenas devastaram plantações, como também afetaram a infraestrutura rural, comprometendo a produção agrícola e os bens de diversos moradores da região.
No conteúdo a seguir, iremos abordar os efeitos dessas enchentes no segmento agrícola, com foco na citricultura. Para trazer os bastidores da situação atual dos produtores, entrevistamos Guilherme Luis Dietrich, citricultor da região do Vale do Caí.
Entenda quais são os desafios enfrentados pelos produtores locais e as perspectivas para a recuperação do setor.
O que Causou as Enchentes no Rio Grande do Sul
As enchentes no Rio Grande do Sul foram causadas por uma combinação de fatores climáticos incomuns. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a região foi afetada por um fenômeno meteorológico raro que resultou em chuvas intensas e contínuas.
Todo o cenário foi exacerbado pela alta umidade do solo e pelas condições atmosféricas desfavoráveis. O principal impacto foi na Bacia Hidrográfica do Guaíba. O rio atingiu seu nível recorde de 5,33 metros e superou o recorde anterior de 4,76 metros registrado em 1941. Tudo isso criou uma situação crítica para muitas cidades gaúchas, fazendo com que o estado decretasse calamidade pública.
De acordo com dados fornecidos pela CNN Brasil, quase 95% das cidades do Rio Grande do Sul foram afetadas pelas chuvas. Em algumas áreas, a precipitação acumulada superou os 700 milímetros em menos de um mês, resultando em inundações severas e deslizamentos de terra.
Essas condições climáticas extremas alagaram rapidamente as paisagens rurais e urbanas do estado gaúcho, ocasionando destruição generalizada e perdas significativas para os agricultores.
Impactos no Setor Agrícola e Citricultura: Compreendendo o Cenário com Guilherme Luis Dietrich
Guilherme Luis Dietrich é citricultor da cidade de Pareci Novo, localizada na região do Vale do Caí, próximo a Montenegro. Ele representa a terceira geração de sua família dedicada à citricultura, um legado que tem preservado com muito orgulho e determinação.
Abaixo, destacamos alguns insights que o Guilherme trouxe sobre a realidade do que está acontecendo agora no setor:
Impacto das enchentes
Guilherme descreve as enchentes recentes como uma catástrofe natural sem precedentes na história: “Nunca houve uma cheia e uma enchente nessas proporções aqui na nossa região”. Destacando então, que até mesmo as construções mais antigas (de 80 a 100 anos) que já foram projetadas para resistir às enchentes acabaram sendo submersas em até 2 metros de água.
As enchentes coincidiram com o início da colheita da bergamota Caí, uma variedade de tangerina conhecida nacionalmente. Devido ao excesso de chuvas, muitas frutas prontas para a colheita apodreceram ou foram severamente danificadas. “A fruta não resiste a tanta umidade assim,” explica Guilherme, indicando que a qualidade da produção foi comprometida.
Danos à Citricultura
O impacto das enchentes na citricultura foi devastador. Na propriedade do Guilherme, mais de 700 milímetros de chuva foram registrados em um período de 20 dias. Ou seja, um volume excepcionalmente alto que acabou causando danos significativos para sua colheita. Pomares inteiros foram cobertos por água, resultando em perdas não apenas para a safra atual, mas também afetando a vitalidade das plantas a longo prazo.
Além disso, a perda de nutrientes no solo devido ao escoamento de água é um dos maiores desafios enfrentados pelos citricultores. “Esse solo vai levar mais de um ano para se recuperar”, ressalta Guilherme, ao relembrar que os investimentos em fertilização e cuidados com o solo foram em sua grande maioria perdidos.
Perspectivas de Recuperação
A recuperação completa dos pomares afetados levará certo tempo atrelado com um alto investimento em recursos. Guilherme estima que será necessário mais de um ano para o solo recuperar toda sua fertilidade.
Além disso, a imprevisibilidade das enchentes torna o planejamento de futuros plantios um desafio. “Hoje, a gente não tem mais a confiança de falar aqui eu posso plantar, ou aqui eu posso construir, porque aqui não vem enchente”, aponta Guilherme.
Medidas de Mitigação e Apoio
Para mitigar os impactos das enchentes, produtores como Guilherme podem recorrer ao Proagro, um seguro agrícola que cobre perdas causadas por eventos climáticos adversos. O Governo Federal anunciou um aporte de R$ 600 milhões Fundo Garantidor de Operações (FGO) para financiar operações de crédito a pequenos e médios produtores rurais.
No entanto, Guilherme destaca que a recuperação será um processo gradual e muitos produtores ainda estão avaliando a extensão total dos danos: “A grande parte dos citricultores que perderam, pelo que eu vejo, não fez muita coisa e não tem muito o que fazer”; ou seja, muitos ainda nem conseguiram escalar as perdas efetivas em seu setor para desenvolverem medidas de contenção.
Resiliência e Apoio Mútuo como Pilares da Reconstrução do Futuro da Agricultura no RS
A resiliência dos citricultores do Rio Grande do Sul será essencial para superar os desafios impostos pelas enchentes. Apesar das perdas significativas, há uma determinação em continuar e recuperar o que foi destruído. “Força e foco” são as palavras de ordem do Guilherme para seus colegas.
A perda de safra atual e as perspectivas para a próxima ainda são incertas. Para Guilherme, “Até o momento, não agora, tem uma grande perspectiva para a safra seguinte de 2025. O volume da enchente deste ano, que aconteceu, vai afetar a floração da de 2025. Mas acredito que o volume de mercadoria de citros aqui do nosso estado ainda vai ser grande”.
Depois da entrevista com Guilherme, juntamente da necessidade de apoio mútuo e estratégias eficazes de mitigação, é possível ter a esperança de que o setor agrícola do Vale do Caí e de outras regiões afetadas consiga se recuperar e prosperar novamente.
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